O que são 10 anos?
No dia 15 de novembro de 2012, meu marido saía do plano material e, de acordo com a minha crença – sou kardecista –, retornava ao plano espiritual, a verdadeira vida.
Dez anos são passados… Mas o que são 10 anos? A última década corresponde a dois anos bissextos: 2016 e 2020. Pouco mais de 3.600 dias. Por cinco semestres estive ausente do Brasil – quando fui leitora em Santiago-Chile. Dois anos de isolamento social durante a pandemia. São 120 meses de minha presença no cotidiano de sua mãe, como sei que ele o faria, se por acaso nossos postos estivessem trocados.
Afinal, o que são 10 anos? São algumas pedras nos rins e não no caminho. São viagens para lugares nunca antes imaginados: dois meses na África Ocidental, um mês em Portugal. Alegrias, tristezas, novos amigos, amizades efêmeras, outras duradouras, alguns dissabores e a certeza de que também eu estou aqui só de passagem.
A única mulher que historicamente havia assumido a presidência do país, em primeiro de janeiro de 2011, permaneceu por 5 anos e 243 dias. Depois disso, o que nós brasileiros passamos a assistir levou-me a imaginar que meu marido estaria melhor no plano espiritual que aqui…
Nesses 10 anos, computei (ou computamos ele e eu) três cachorrinhos a menos; Zezinho (o seu maltês do dentinho encavalado) preferiu ficar com ele a manter-se longe e saudoso. Pouco antes da pandemia, um marco histórico que será lembrado não apenas neste meu texto, mas em uma vasta literatura, seja ela científica ou não, a Estopinha (a poodle-lata) foi fazer as estripulias dela na companhia do Zezinho.
Mas aquele que realmente levou junto muitas lembranças da família que formamos, foi London, o West que meu marido e outros companheiros nossos de trabalho me deram para eu parar de chorar pela perda da cachorrinha Sunny. London Blanc viveu 16 anos e 8 meses comigo. Nos anos iniciais aprendeu muito com meu companheiro e o adorava como o bom instrutor que sempre lhe dava guloseima depois de ele acertar o comando: “Como faz pra ganhar?”, a que London prontamente atendia, sentando-se sobre as patas traseiras. Dava gosto ver os dois nesse exercício de ensino-aprendizagem!
Espero que esse meu companheiro de longa data esteja cuidando bem do trio, estejam onde estiverem todos eles, porque eu atualmente tenho 17 gatos sob a minha tutela. Nada fácil para quem não tem muito tempo livre para fazer tudo o de que precisa. E como esse meu companheiro faz falta nesse quesito! Adorava quando ele fazia a comida para nós enquanto eu trabalhava no computador – também para nós!
Mas afinal, o que são 10 anos? É uma criança quase ingressando nas séries intermediárias do Ensino Fundamental; entrando na adolescência; começando a poetar com os amigos e as amigas e, claro, a depender do temperamento, a bater de frente com a autoridade dos pais. Não fui exitosa em mais um processo de habilitação à adoção. Sendo assim, não tenho esses enfrentamentos, embora tenha os meus estudos e a minha escrita. Sim, nesses 10 anos, eu me descobri escritora! Tenho cinco livros infantojuvenis publicados e alguns já registrados, aguardando o momento oportuno para trazê-los à luz também. Escrevi um ensaio a 4 mãos com uma amiga de longa data, também sua conhecida, pois os três trabalhamos juntos. Sei que meu marido e essa minha amiga discutiam bastante, mas eram meras divergências administrativas. Ambos gostavam um do outro e muito de mim! Seguimos a nossa amizade, felizmente. Tão firme, que eu a convenci a voltar aos estudos (aos 60 anos!) e a garantir uma aprendizagem que levará consigo, para o plano espiritual, porque é algo que ninguém toma de nós.
Apesar das boas notícias, vivenciei muitas ausências nesse período; de mãe, tia, primo, sobrinho, amigos… Todos, acredito, por aí, no entorno, falando, trabalhando, aprendendo e se preparando para o retorno a este plano material. E quanto ao meu marido? Já que o tempo no plano espiritual dizem ser diferente do que vivenciamos na matéria, é aquele tempo relativo do qual ele me falava às vezes, o que será que ele tem vivenciado?
Fico aqui, sozinha, madrugadas, manhãs, tardes e noites, pensando e repensando se fosse o contrário; se eu tivesse sido diagnosticada com câncer e houvesse deixado um homem ainda jovem, forte e vigoroso viúvo. Hoje, quem sabe, estaria casado, com filhos, teria comprado uma casa ou seguiria na antiga opção de ser melhor o aluguel, pois não levaremos casa quando partirmos daqui?
Mesmo com tanta sabedoria nessas palavras dele, não resisti à tentação de comprar e vir morar na casa onde viveram minha mãe, minha avó, meus tios… Nesta casa que me traz lembranças boas quase todo o tempo, mas também me deixa nostálgica, como em momentos como este agora em que a lembrança que sinto de meu companheiro dói caladinha no fundo do peito e aperta, aperta até arderem os olhos a espremerem uma água quente e lenta que lava a minh’alma enquanto a música calma toca no notebook ao lado do PC.
Aperta também a roupa que, não só ficou velha e descorada, mas pequena para os muitos quilinhos adquiridos na inércia física do isolamento social, e pelas horas e mais horas na frente do PC realizando os estudos virtuais, participando de lives e eventos outros. Eu mudei muito fisicamente. Não sou mais aquela magrelinha com aparelho nos dentes, pesando um peso-pena, cabelos loiros. O perfil atual é de uma sexagenária acima do peso, cabelos brancos, pernas inchadas e um cansaço crônico. As roupas alargadas para gerarem conforto. Os pneuzinhos como parte integrante da silhueta.
Ah! Nesses 10 anos, a comunicação progrediu muito! Criaram o twitter, que me lembro muito bem ele já praticava comigo em 2001, quando estive fora do país, e os spams em meu e-mail não me permitiam uma comunicação ágil com quem estava no Brasil, mas ele rapidamente descobriu que, pelo assunto, em frases curtas e disparando vários e-mails consecutivos, conseguiria me fazer ler um texto coerente e, assim, nos comunicávamos. Chegou a cogitar ir se encontrar comigo em Salamanca/Espanha! Uma pena que não tenha ido…
A comunicação – infelizmente – só não chegou ainda àquele patamar do “Correio do Além” cuja história meu marido me contava alegremente, exemplificando o que lhe disse um primo advogado, ao arrematar uma audiência com essa frase. Como esse meu companheiro era bom em histórias, como contador de “potocas” como ele dizia! Ééééééééé… a evolução ainda não chegou a esse ponto de me permitir uma comunicação com o Além. Porém, assim que chegar, é certo que serei uma das ávidas usuárias a enviar minhas mensagens cotidianamente!
Descanse em paz enquanto isso!
MoBa NePe Zinid – 15nov2022
Que texto lúcido! Parabéns, minha querida Mônica Baêta!
Querido Marinaldo,
muito obrigada por dedicar seu escasso tempo para vir ler minhas muitas letras reunidas em sentimentos.
Abraço repleto de boas energias!
Lendo o texto de hoje não tenho respostas, só uma pergunta: quanto amor cabe em um coração?
Um beijo grande, minha amiga.
Querida amiga de sempre, Rafaela,
tentando responder a sua pergunta, mas a me indagar ao mesmo tempo,
seria todo aquele que Deus permitir.
Muito obrigada pela constância, por se fazer sempre presente, provando, uma vez mais,
que a distância é como o tempo: relativa!
Beijos no coração e muita energia positiva!!
Waauuu!!!! Gostei muito do texto. A maneira que conta os acontecimentos é muito especial, e faz que o leitor leia além das palavras e possa sentir a emoção que transmite. Espero ler outro artigo como esse daqui a 10 anos :).
Muitos abraços!!!!
Esteban, meu querido ex-aluno, sempre presente em meu coração!!
Que felicidade ter a sua leitura e, ainda, o seu comentário postado aqui em meu blog!
Você não imagina a grandeza de sentimentos que também gera ao me permitir ler o seu texto.
Fico feliz ao saber que você se sentiu tocado por meu texto. Isso não tem preço!
Receba o meu abraço forte e carregado de boas energias!
Que lindo, querida amiga. Me emocionei muito lendo teu texto… Obrigada!
Querida Letícia,
que bom recebê-la como leitora e, claro, obrigada pelas palavras amáveis e lindas como você!
Quem tem sempre a agradecer, sou eu! Sobretudo pela possibilidade de expor o que me vai n’alma e,
claro, por poder interagir neste espaço com os leitores, sempre tão gentis comigo!
Abraço repleto de boas vibrações!
10 anos?! São 10 anos de amizade, de encontros, de viagens, de alegria com pequenas e grandes coisas, tristeza do que e de quem perdemos…
É uma década de aprendizado, de compartilhamento, de coragem e de esperança …
10 anos é muito e é nada…
Querido Vital,
muito obrigada por interagir tão espontaneamente com o texto!
Fico muito feliz ao vê-lo dominando maravilhosamente bem a língua portuguesa!
Com propriedade, com alegria e graça! De forma impecável, diria ainda!
Deus o abençoe!
Continue sempre assim!
Abraço virtual, mas repleto de boas energias!
Mais um texto cheio de graça e de reflexões! Dá até pra arrepiar!
Parabéns, Mop!!!
Querida Liliane,
quem já perdeu alguém muito querido sabe se arrepiar frente aos sentimentos alheios e deles compartilhar!
Sou grata por sua presença e por suas palavras sempre amigas, gentis e verdadeiras!
Sigamos! A vida nos toca!…
Abração, mamãe da Clara, e beijinhos pra ela!
👏🏼👏🏼👏🏼Que texto lindo e comovente!
Parabéns, Moba!
Leila, minha querida!
Que surpresa boa, tê-la por aqui, interagindo e me dirigindo palavras tão agradáveis!
Muito obrigada pelo carinho!!
Abraço repleto de boas energias e vamos, que vamos!!
Mais um texto emocionante. Pois é, falta é sempre falta, mesmo que seja recheada de boas lembranças. Tenho ouvido muito que a dor passa e a “saudade doce” fica. Ando revoltada com esse termo: se a língua portuguesa nos legou uma palavra tão grandiosa como “saudade”, que cabe em si sentimentos tão contraditórios e complementares, porque devemos seguimenta-la com adjetivos? Saudade é saudade e pronto! Uma hora a gente ri com ela e outra a gente chora… e está tudo bem. Beijos
Querida Lucimara,
obrigada pela constância como leitora neste blog!
Como sempre, você vem complementar os meus pensamentos, ampliá-los, explicá-los.
Concordo com você. Que tenhamos essa saudade que por si só basta!
Abraço repleto de boas energias!
Texto lindo e profundo.
Melhor perguntar: o que são os anos? O que importa é o fato de você ter vivido. Memórias lindas grudadas no peito.
Parabéns, amiga!
Querida amiga Zila,
que alegria que tenha se sentido tocada por meu texto.
Vivi; vivemos. As memórias são nossa forma de (re)viver também…
Receba o meu carinho de sempre!
Abração com vibrações positivas!
Que lindeza, Mônica! Obrigada por compartilhar suas memórias e reflexões!
Querida Cirlene,
é algo que tenho aprendido a fazer, pois me parece reviver cada um desses momentos que reconstruo.
Em contrapartida, ainda tenho o privilégio da leitura de pessoas maravilhosas como você!
Sou eu quem tem muito a agradecer!
Beijos e um lindo fim de semana!