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(NÃO) SER MÃE

Maio se aproximando… É o mês considerado das noivas, e também das mães. O segundo domingo é sempre dedicado a elas: as mães.

Fui noiva. Dizem que uma noiva bonita. Não apenas aquela noiva de aliança no anular da mão direita, mas também aquela que entra na igreja e se posta na frente do padre, ao lado do futuro esposo, numa consagração de união diante de um representante de Deus aqui na Terra. Aquela da aliança na mão, simplesmente, fui a primeira vez aos 18 anos. Mas o noivo engravidou uma vizinha e, próximo ao Natal, nos idos de 1982, terminou o noivado e foi ser feliz com ela. A segunda vez foi 5 anos depois e resultou em casamento com apenas 6 meses que eu conhecia o noivo. Minha mãe dizia que não daria certo; que era preciso conhecer mais aquele que viria a ser o meu futuro marido; mas a faixa etária e a vontade de casar eram más conselheiras e, claro, desobedeci à minha mãe e me casei – apenas na igreja. Onze meses e 27 dias depois, ele ia embora viver com outra mulher e me abandonava com apenas a minha roupa do corpo e os meus livros. Não cheguei a ser mãe.

Perdi um pouco a esperança na vida e nos homens nesse período, mas o tempo é excelente conselheiro e Deus, sábio em nossa vida, sabe sempre o que é melhor pra nós e tinha destinado a mim aquele que viria a ser o meu marido. Este, apenas no Cartório e com o poder de mudar o meu nome, retirando de mim aquela identidade já constituída.

Com meu marido – no papel – eu não fui noiva. Apenas esposa. Com ele eu conheci pela primeira vez o termo tentante. Destina-se às mulheres que estão tentando engravidar. E nós dois tentamos juntos 9 vezes. Depois que ele morreu de câncer, eu ainda tentei uma vez mais… Em vão. Dez tentativas serviram para me mostrar a força da natureza.

Sou uma mulher que nasceu com um “anticoncepcional natural”. Aprendi isto com a Drª Genevieve Coelho, em Salvador: vim com uma oximetilredutase que me impediu, durante a minha vida fértil, de ter a implantação de um embrião em meu útero. A química criou medicamentos bloqueadores para a oxi… Mas o meu organismo sempre foi mais forte e ela vencia o bloqueio e expulsava os meus embriões implantados. Não cheguei a ser mãe. Meu marido morreu sem ser pai… acho!…

Restava-me a via do coração: adotar. Duas tentativas e ambas frustradas. A primeira, porque o meu gênio não é fácil e eu discuti com a assistente social, que “se esqueceu” do meu processo e eu não recorri, porque perdi o prazo. A segunda, porque eu “tinha uma vida muito boa”, nas palavras da psicóloga. E, claro, devo confessar, concordei plenamente com ela. Sim, tenho uma vida muito boa. Tenho consciência de que faço o que quero e, até março de 2020, viajava para onde queria e, por onde ia, ficava o tempo que me aprouvesse. Infelizmente, essa realidade transformou-se no contexto pandêmico que se instaurou mundo afora.

Então, maio se aproxima. E com isso, uma certa melancolia se instala em mim, fazendo-me lembrar de minha mãe e das suas falas quando ela, insanamente, dizia-me, durante nossas discussões: “Nem para ser mãe você prestou!”. Hoje, que estudo os argumentos, vejo e entendo que ela, quando me dizia isso dessa forma, não tinha mais os argumentos sensatos e partia para a ofensa pessoal, lançando mão do argumentum ad feminam (não é usual, mas entendo que seja o apropriado; o que se utiliza é argumentum ad hominem). Mas eu não sabia disso à época. E, além do mais, ela era a minha mãe. Ela me amava e eu sabia disso. Por isso, chorava. E chorava copiosamente. Uma dor aguda penetrava-me a alma. Chorava tanto que, quando meu verdadeiro marido me via, logo perguntava se eu havia brigado com a minha mãe e, quando eu relatava a ele as ofensas recebidas, ele me criticava, dizendo-me: “Uma mulher velha dessas, chorando por causa das coisas que a mãe fala!”. Ele estava tentando me ajudar. Mas, talvez, no fundo, ele não percebesse o alcance daquelas palavras que eu relatava a ele. Talvez ele não entendesse que eu ainda me sentia ofendida porque não tinha a vivência que tenho hoje, ao entender que esse (não) ser mãe é algo circunstancial e que pode ter extensões muito diferentes.

Bastou-me observar o mundo à minha volta, sem precisar ir muito longe. Tenho algumas amigas que são mães biológicas; outras não. Tenho algumas que optaram por não ter (mais) filhos. Tenho algumas tentantes. Tenho algumas que jamais revelaram qualquer sentimento maternal. Eu, por outro lado, sempre manifestei esse sentimento de querer cuidar do outro.

E foi aí, queridas leitoras e queridos leitores, que percebi que não existe isso de não ser mãe. Sempre se é mãe. Quando se brinca de cuidar de um amiguinho, quando se pega um animalzinho filhote ainda e se vê ele crescer até ficar velhinho e morrer. Quando se adota não um, mas vários animais abandonados…

Uma de minhas amigas – que não é mãe biológica –, é adotante de mais de 50 cães. Não cheguei e nem chegarei a esse montante com os meus gatinhos, porque não moro em sítio como ela, mas já adotei 7. Dessas minhas palavras-desabafo, que chegam quase junto com maio, fica aí uma preciosa dica: seja mãe!! Para os e além dos filhos que você possa ter, seja (também) dos animais que precisam de sua atenção e carinho. Dos filhos de outras mães que, por qualquer que seja o motivo, precisam de você, de sua atenção e companhia; dedique-lhes amor e receba de coração aberto todo o amor que tiverem para lhe dar!

Feliz mês de maio às noivas, às mães!

Moba Nepe Zinid – Última semana de abril 2021