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Do lado de dentro ou do lado de fora

As coisas nesta vida costumam ser observadas a partir de uma perspectiva: seja a nossa, seja a do outro. O interessante é que após passarmos por determinadas situações, tomamos ciência de que alguns objetos também têm o “poder” de alterar nossa percepção das coisas.

Em plena sexta-feira 13, dia em que algumas pessoas (retro)alimentam certas superstições, saí de casa para tratar de assuntos pessoais e atinentes à proximidade das festividades natalinas. Não tenho o hábito de sair de casa de carro nesse período, devido ao caos em que o trânsito (já caótico) desta cidade se transforma, mas abri uma exceção devido à celeridade que desejava empreender à saída e, por conseguinte, ao meu pronto retorno ao lar, devido às inúmeras tarefas a serem executadas ainda nesse mesmo dia.

De fato, saí com uma presteza e velocidade que poderia dizer serem incompatíveis com o dia e o horário, pois consegui sair às 15h30, resolver tudo que pretendia e, quando faltavam apenas 10 minutos para as 18h eu já retornava para a rua onde moro, ouvindo tranquilamente a rádio de minha preferência.

O portão da garagem da minha residência não é automático. Eu tenho que abrir manualmente e, para tanto, conto com as chaves dos cadeados, as quais são facilmente identificáveis por uma estratégia que uso: a correspondente ao cadeado inferior tem um pequenino parafuso com a respectiva porquinha e, mesmo que esteja escuro o ambiente, pelo tato eu sei qual chave é e posso abrir perfeitamente o sistema de trancamento.

Nesse retorno para o lar, com vontade de entrar, ir ao banheiro e preparar o jantar, assim que guardei o carro na garagem, tranquei ambos os cadeados e, com mochila e sacolada cheia, fui em direção ao portão de pedestre e tateei o bolso externo da mochila para buscar as chaves de casa. Não as encontrei! Imediatamente me lembrei de haver colocado o molho de chaves no console do veículo, antes de dar a partida nele para guardá-lo na garagem.

Sem pânico, peguei o celular e liguei imediatamente para um amigo que tem as cópias de minhas chaves de casa. Ele não atendeu. Pensei que ele poderia estar dormindo, devido ao horário e ao cansaço crônico no qual ele se encontra. Resolvi insistir. Por sorte, ele atendeu. Expliquei em poucas palavras a situação. Ele me disse que estava na barbearia e que demoraria uns 20 minutos ainda até poder sair, mas que estava em um bairro próximo e, além disso, as chaves da minha casa estavam ali com ele.

Combinamos de eu aguardar e fiquei onde estava, no passeio público, torcendo para que a chuva, que ameaçava cair, não desabasse sobre mim e meus objetos, que não podiam molhar, e me censurando por não ter carregado ao menos uma de minhas sombrinhas pequeninas e, claro, por ter trancado as chaves dentro do carro, que estava dentro da garagem, enquanto eu estava do lado de fora de casa.

Para não prestar atenção ao tempo, que me pareceu ser de umas duas horas e não de 20 minutos apenas, uma vez que eu desejava chegar, chegando, a minha casa, fiquei ali me distrandindo com o gatinho de rua que se comporta como um cachorrinho e está sempre atrás de mim aonde eu vá ali no espaço da frente da casa. Curiosamente, ele do lado de dentro da casa, nos degraus próximos ao jardim, enquanto eu permanecia no passeio à espera da ajuda providencial do amigo, que eu já incomodara e deslocara dos próprios compromissos, para vir até minha residência atender ao meu chamado.

Finalmente, vejo despontar o carro dele. Ele desce com a bolsa que sempre porta. Tira dela um pequeno molho com 4 chaves, porém desprovido de chaveiro. Eu me lembrava de ter passado a ele um conjunto que tinha um chaveiro com uma charmosa gatinha. Olhando aquelas chaves, percebi que nenhuma delas era da minha residência. Ele procurou mais na bolsa, mas em vão. Decidimos ir até o apartamento dele – que é em um bairro próximo – para procurarmos ali as chaves que me atenderiam.

Chegamos ao apartamento dele e fomos recebidos pelos bichanos que ficaram me fazendo companhia, enquanto ele procurava pelas chaves que são cópia das que me permitem transitar por minha residência. Busca infrutífera! Não as encontrou.

Como mais um recurso, lembrei-me de outro amigo, também residente em bairro não muito distante, que igualmente guarda consigo cópia das chaves da minha casa, a pedido meu. Mandei-lhe mensagem, mas ele não estava online e, portanto, não a visualizou.

Com o meu insucesso em ter as chaves por meio desse outro amigo próximo, liguei para meu irmão, que mora em outro município, expliquei a situação e avisei que um motociclista de aplicativo iria até ele para buscar as chaves de que eu precisava. Essa terceira tentativa foi prontamente atendida. Meu irmão atendeu e ficou de prontidão para despachar o molho de chaves até a mim.

Nesse ínterim, quando o motociclista estava em vias de ser acionado, o amigo residente em bairro próximo deu retorno e até enviou uma fotografia com o molho de chaves com um chaveiro do CRF-MG, elemento identificador de que se tratava de algo a mim relacionado, visando confirmar o reconhecimento das chaves, que abririam as portas da minha residência, permitindo-me estar dentro e não mais fora dela.

Imediatamente houve um rearranjo do deslocamento do motociclista de aplicativo, direcionando-o para próximo à Feira dos Produtores e, com monitoramento e comprovação da chegada-entrega-saída e deslocamento até a minha residência, saímos – meu amigo primeiro a ser por mim acionado – e eu de volta para a minha casa.

Pouco depois de chegarmos defronte à residência fechada (e eu de fora dela), o motociclista chegou com o pacotinho que me abriria as portas e me permitiria entrar onde eu queria estar: dentro de casa.

Nem bem entrei, já busquei as cópias das chaves dos cadeados da garagem. Chegando lá, eu me dei conta de que não estava com a chave do carro e, como as minhas chaves de casa estavam dentro dele, para abri-lo eu tinha que acionar o alarme etc. e tal. Estava fora de casa, dentro da garagem, mas tive que voltar e, dentro de casa, dentro da mochila, que estava dentro do quarto, peguei a chave e saí de casa (uma vez mais), voltei para a garagem, abri o carro, peguei meu molho de chaves no console, tranquei o veículo, tranquei novamente os cadeados, entrei em casa (des)trancando os portões para, somente então, poder fazer aquilo a que havia me programado para duas horas antes.

O lado positivo de tudo isso foi poder estar com um amigo, tomar café com ele, prosear e ainda confirmar que é sempre bom ter amigos que guardem coisas nossas extremamente úteis e importantes para eventualidades como essa que relato. O mais interessante foi que, enquanto tomávamos café, pudemos constatar que o molho de chaves com o chaveiro da gatinha charmosa estava dependurado no meu porta-chaves, na copa da minha casa. E isso certamente desde outubro, quando eu havia “tentado devolver” por um empréstimo rápido devido à presença de um hóspede temporário aqui naquele mês, motivo pelo qual tal molho de chaves não foi encontrado na casa do meu prestimoso amigo, primeiro a ser acionado! Pode? Rs.

MoBa NePe Zinid – 15 dez. 2024.