Blog

Sem guizo!

Quase 11 anos já se passaram desde aquele 11 de janeiro, quando vim de mala e cuia para a casa velha da família. Não é tão pouco tempo assim!… Posso dizer que tem sido o suficiente para eu ver desfilarem pela varanda, pelo jardim e, também, pela garagem daqui de casa, os chamados “gatos de rua”.

O primeiro deles foi o Amarelinho, responsável pela presença da companheira dele – aquela que foi morta pelo Chow Chow de uma vizinha, que deixava o cachorro sem guia solto pela rua. O Amarelinho ficou por tanto tempo, que acabou sendo adotado, como já contei aqui. Passados seis anos, em pleno carnaval deste ano, ele foi se encontrar com outros animais da casa, que já foram para o plano espiritual. Inclusive, com a oportunidade de se reencontrar com os dois cachorrinhos com os quais chegou a conviver quando foi adotado.

Depois dele, tentei não me afeiçoar a nenhum dos demais que regularmente frequentam as vasilhas de água e comida da varanda. Alguns mais dóceis; outros, nem tanto. Vieram o “Bufão”. Um preto e branco que bastava eu me aproximar, que ele bufava e se afastava. Depois que apareceu com um grave ferimento em uma pata dianteira, foi visto por mim, pela última vez, descendo a minha rua em direção à primeira perpendicular e desapareceu…

Também não foi mais visto por aqui o muito parecido com o meu gato que é todo pretinho (que me aplicou uma dolorida mordida neste início de semana!); porém, esse solto na vizinhança é (ou era) todo cinza. Eu o chamava de “Gray” (cinza em inglês). Não era amigável; tampouco era bravo. Ficava sempre “na dele”, sem muita proximidade, mas “respondia” quando eu me dirigia a ele, usando o nome que lhe dei. Depois de muitos meses frequentando a frente daqui de casa, surgiu um dia com uma coleira vinho, parecendo ser de couro. Quando deixou de vir, fiquei torcendo para que tivesse recebido um lar, com plena acolhida, pois a existência dessa coleira apontava para isso.

Pouco tempo havia se passado, quando veio o PB que, infelizmente, no estado de debilidade em que se encontrava, mal conseguia se manter em pé. O veterinário que o examinou deu dois meses de vida para o bichano, que alcançou o dobro aqui em casa, pois eu o recolhi e cuidei dele com muito zelo, permitindo que a partida dele, para se juntar a outros no plano espiritual, fosse com dignidade.

Quase imediatamente, apareceu a quase filhote “Baby”. Tigrada, deixou saudades e nem gosto de comentar sobre ela devido ao pouco tempo de nossa convivência e da triste história que a cerca… Afinal, ainda muito novinha, acabou emprenhando – já que ficava muito na rua! – e, em decorrência dessa prenhez e, provavelmente, pela desatenção da veterinária com a qual fiz a consulta da gatinha, abortou e faleceu de uma hemorragia que teve durante certa noite.

Paralelamente a esses dois últimos, seguia frequentando a varanda e usando e abusando dos afagos, a “Onite”, de “bonitinha”. Do tipo “Frajola”, ela seguia engordando e muito vistosa. Sumia durante uns tempos, mas aparecia toda lampeira depois. Um bom sinal: estava sendo cuidada; tinha um lar, mas dava umas fugidinhas esporádicas para “vir me visitar”.

Como é raro ficar sem vir algum gato às vasilhas, que ficam à disposição deles na varanda, um todo pretinho, mas magro, começou a vir. Porém, a gata que se aboletou há quase dois anos aqui em casa, acabou se encontrando com ele no jardim e desceu uma “voadora” no bichano que desapareceu por um bom tempo. Fiquei até com dó dele!

Além desse gato magrelo e pretinho, um grande, forte e com a mesma pelagem, começou também a frequentar o espaço externo daqui de casa. Esse, coitado, em busca das aventuras da procriação, surgiu certa feita todo machucado! Sangrou tanto em uma das orelhas, que o papelão que estava empilhado próximo ao entulho que o carroceiro levaria no dia consecutivo, ficou todo ensanguentado. E quem disse que o gato deixava eu me aproximar dele para tentar tratar do ferimento mais grave, pelo menos? Que nada! Pensei em uma forma de ajudar e, com isso, passei a dar a ele – especificamente – a comida úmida, para ele ter mais salivação e conseguir ir fazendo uma autolimpeza nos ferimentos em geral.

Esse mesmo gato, pouco tempo depois, começou a apresentar uma forte secreção nos dois olhos. Ele chegava pela manhã miando e bufando muito para mim, mas enxergando pouco. Não sei qual foi o passe de mágica que eu apliquei nele, mas consegui uma primeira vez (de muitas), fazer a limpeza do sangue seco na orelha dele (o ferimento havia sido bem profundo!) e, aproveitando que ele estava menos bravo, limpei também os olhos dele. A partir desse dia, isso passou a virar a minha rotina matinal.

Apesar de histórias nem sempre alegres, nenhum desses gatos chegou a me preocupar tanto quanto o mais novo dos “Frajolinhas” que, de forma nada silenciosa, começou a vir se alimentar e a se dessedentar no espaço que é por mim reservado aos gatos soltos neste mundão.

Falo do mais recente protegido meu: chegou muito magrinho e… pasmem! Com uma coleira muito apertada no pescocinho magro dele. Nessa coleira, nada mais, nada menos que um guizo! Isso mesmo! Por ignorância total do absurdo que fazia, alguém colocou em um felino – o animal mais silencioso no deslocamento de que se tem notícia – um guizo, para ele sinalizar a cães, demais gatos e, óbvio, a seres humanos, estes últimos, nem sempre imbuídos de boas intenções com animais de rua, todos os seus movimentos por onde quer que fosse.

Fiquei agoniada com a situação do bichano, pois ele passou a ser perseguido pelo outro usuário das dependências, ou seja, do “refeitório” deles, como se fosse uma fêmea. Tanto que eu cheguei a imaginar que, de fato, fosse. Passei a conversar com o “Frajolinha”, ao qual dei o nome de “Guizim”, até que ele se aproximou o suficiente de mim em uma noite e eu consegui, com muito empenho, desabotoar a coleira com o guizo nela dependurado. Estava tão apertada ao pescocinho fino do animal, que ele já tossia por causa do aperto na região que deveria estar livre para ele respirar e se alimentar bem.

Depois que eu consegui retirar esses dois “instrumentos de tortura” de Guizim, felizmente, ele não voltou a tossir por ter algo a apertar seu pescoço. Apenas não consegui ainda foi livrá-lo do assédio constante do outro gato, bem maior e mais forte que ele, cismado de que se trata de uma fêmea para procriação. Enfim, coisas da natureza animal que não conseguimos alterar.

Mas o que mais me motivou, desta feita, a vir escrever, foi a vontade de deixar um alerta a atuais e, também, a futuros tutores(as) de quaisquer felinos: jamais os coloquem em risco! No caso de coleira com guizo, é risco duplo: asfixia (por estrangulamento) e, ainda, fácil localização pelo ruído que vai ser um sinalizador da presença do animal (que ficará marcado para morrer! Sei… Parece nome de filme; mas não resisti!). Será uma presa fácil a quaisquer predadores.

Guizo, pessoal, serve como brinquedo para os gatinhos (ou mesmo para os cães) correrem atrás, darem tapinhas e se divertirem como se estivessem caçando um animalzinho qualquer. Jamais deve ser usado no pescoço de um animal de estimação, a título de saber “aonde” o bicho foi. É dar de bandeja aos predadores. Se você ama seu animalzinho, mantenha-o próximo a você e o cumule de carinho, conversa e uma boa alimentação, de conformidade com o que possa lhe custear. Mas não o aprisione e nem o deixe jogado à própria sorte! Isso configura maus-tratos!

MoBa NePe Zinid – 11 set. 2024.